"Todo coração em caos traz uma estrela cintilante ". (Nietzsche)

Milhares e milhares de coisas a fazer. Milhões e milhões de responsabilidades começando a surgir e, roubar aquilo que eu costumava chamar de tempo. Várias e várias coisas mais importantes do que um hobby - por enquanto, mais valiosas que a calmaria que me invade quando escrevo.
Por mim, escreveria todos os dias, todos os momentos e segundos. Escreveria de temas e contextos, conceitos e culturas, artes e política, charme e hipocrisia, burguesia e proletariado.
Porém, o que me invade ultimamente são textos - até pouco tempo atrás, desconhecidos. Me tomo por escrever sobre Radialismo. Me pego falando sobre a radiodifusão, o desinteresse das pessoas para com a rádio com frequência AM, os conceitos de sonoplastia e montagem, e os tipos de orátorias usadas em uma peça radiofônica.
Tenho - me sinto na obrigação, de pedir desculpa às minhas idéias, às minhas pausas para refletir e me questionar. Sinto que devo à elas uma pequena explicação, devo à elas um pequeno tempo de justificativa para a minha ausência.
É com tristeza que peço um intervalo, e mais do que isso, peço um entendimento para com ele. Pausarei, não só por simplesmente pausar, por falta ou nulidade de idéias, de contextos, mas sim, por falta daquele "recreio", hoje em dia tão precioso.
Quero tempo, anseio pelo meu recreio, pelo meu brincar no gira-gira, pelo meu momento de paz, e pelo meu café.


"- Ele vai ouvir o meu chamado a uma milha de distância, ele cantará minha canção preferida, ele pode andar com um pônei ao contrário. Faço encanto de amor verdadeiro, chama-se Amas Veritas. Ele pode virar panquecas no ar, e sua forma preferida será uma estrela. E ele vai ter um olho verde e um olho azul.
- Pensava que não queria se apaixonar.
- Essa é a questão. O homem que desejo não existe. Logo se ele não existe, não vou sofrer."
(Practical Magic - Sally e Gillian Orwens)

O homem que desejo não existe. Ou pior, ele existe e eu desconheço sua existência e localização.
É incrível como cultura são nos passadas de geração a geração, e mesmo sabendo que estas não passam de fantasias, defendemos e passamos adiante para nossos filhos, que continuarão o ciclo.
Estórias e contos de fadas existem e, desde o começo de nossas vidas, somos rotuladas como fadinhas e princesas, que em determinado tempo da vida são cortejadas por um príncipe lindo e perfeito, que abrirá mão até da própria vida em prol desse grande e puro amor.
O que esquecem nossas mães, é que existem sentimos que, muitas vezes - pra não dizer a maioria, se tornaram muito mais importantes e essenciais do que este amor.
Egoísmo existe, faz parte do subjetivo de milhões de pessoas. Ou seja, o príncipe que abre mão de tudo pela linda princesa, ou não tem dentro de si o egoísmo - o que eu acho muito difícil, ou é apenas algo criado pelo subconsciente de alguns, e passado adiante pela cultura, para os outros.
Vaidade, outra coisa presente no ego de cada um. Na verdade - se pensarmos bem, o que faz aquela linda princesa aguardar seu amor pressa em uma torre? Para mim, nada além de sentir o ego estufado por ver cavaleiros lutando com dragões e monstros, pelo bem e liberdade da menina indefesa.
E o que faz esperar por esse ser, esse humano cheio de glória e bondade, totalmente necessário para o seu "felizes para sempre"? Nada além de uma cultura adquirida quando ainda se têm fraldas entre as pernas.
Essa cultura é como uma rede, onde somos meras pontas que ligam uma corda na outra, e não nos atrevemos a nos desligar. Além de não nos atrevemos, ainda defendemos com unha e dentes a mesma, dizendo que sim, o homem ideal existe e, uma hora ou outra, aparecerá.
Fantasias de princesas são vendidas em toda data comercial, ou seja, data em que presentes se fazem necessários pela cultura que é imposta a nossa sociedade. Com essas, são vendidos conceitos; conceitos esses de que fugir da bruxa é o certo, se trancar numa torre e aguardar o herói é o correto; lutar com suas próprias armas não é coisa de menina.
Ao mesmo tempo em que existem a cultura, existe a contra-cultura. Fugir da mesmice da sociedade não é uma tarefa fácil - nada fácil. Porém me contento em apenas fugir do senso comum, dessas fantasias estipuladas pela multidão, me contento em apenas não esperar meu "príncipe".
Quero um homem, real, com defeitos, cheio de egoísmo e verdade. Quero distância de príncipes encantados, fúteis e bem vestidos. Cansei de ser princesa, cansei de esperar dentro da torre, a cultura machista "me salvar". Enjoei de ser fada, me deixe ser bruxa, que eu espero meu mago.