“Coitado do ser humano em que não ficou nada da criança”. (Graff, Anton).
Há um certo abismo, entre as tuas brincadeiras de criança, onde se é médico, dentista, bombeiro, bailarina; e a tua realidade futura, a escolha da profissão certa e, a graduação naquilo. Pra mim, abismo, é onde quedas ocorrem, onde posso me machucar e, quando esses sentimentos me invadem, trazem consigo o medo, o receio.
Medo. Aquilo que uma formiga teria – se pudesse raciocinar, ao perceber um dedo por perto. Aquele frio na espinha que ocorre no esperar de uma notícia decisiva. Aquilo que sentimos ao saber que algo importante, pode simplesmente acabar.
Não acho que exista uma grande diferença em meus sonhos de infância e meus sonhos atuais. Há sim neles, várias conotações somadas, conotações estas que em tempos remotos, eram totalmente inexistentes para mim. Hoje em dia, enxergo a parte financeira, o fator ‘tempo’, a vontade que imponho, a garra que tenho e, não simplesmente a parte final da coisa.
E por que esse medo me invade? Por que o receio de nada dar certo? Por que o medo de começar e me empenhar em algo novo? Acredito que sejam características do ser humano em si, algo novo é algo a se temer. É cômodo – e muito, muito confortável – lidar sempre com as mesmas situações, onde posso tomar as mesmas atitudes, sabendo que vão terminar dá forma que anseio.
Medo que sinto hoje é diferente daquele sentido no primeiro dia de aula da quinta série. O medo de ser aceita em um grupo, não existe mais. O que existe, e é muito forte, é o medo do desconhecido, medo do “não deu certo”, medo do “falhar”.
Não imagino que isso ocorra com todos, acredito que pessoas tendem a facilitar as coisas de tal forma para que não se sintam amedrontadas. Mas comigo, é diferente. O medo funciona, para mim, como um termômetro. É com ele que meço o meu grau de excitação e determinação para tal e tal coisa. Costumo pensar nele como uma prova da minha existência, prova que estou viva e sujeita a qualquer tipo de sentimento, e mais do que isso, penso que é mais uma forma de provar que fugi do senso comum com grande êxito.
É como estar em uma montanha-russa, saber dos perigos possíveis e das diversões que ela causa, e ao subir da mesma, no topo mais alto, levantar as mãos e sentir aquelas borboletas se debatendo dentro do estômago. É ter total noção que aquilo pode não dar certo, lhe causar até uma morte súbita, e estar lá, quebrando regras e barreiras em prol da sua diversão, de seu sonho, daquilo que almeja. Ao fim do percurso, a satisfação lhe invade, e eu lhe pergunto, seria a mesma coisa se a certeza lhe tomasse conta? Seria tão satisfatório se não existissem as tais borboletas em seu estômago?
Gosto de me sentir em um parque de diversões a todo instante, gosto de saber que haverá quedas e mais quedas, que até “trens-fantasma” podem aparecer no caminho, que terei que lidar com monstros e com sustos, sensações não tão agradáveis. Mas que lembrar disso me causará alegria, que vou rir até a barriga doer dos sustos que levei. Que ao sair do parque, vestida de bailarina, minha mãe me esperará com um algodão-doce na mão.
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1 comentários:
Continuemos com ares de bailarina à espera do algodão doce, metáfora para inocência e perseverança.
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